A primeira referência, actualmente conhecida, à divulgação do vegetarianismo em Portugal, remonta ao início do século XX (provavelmente 1908), com a criação da Sociedade Vegetariana de Portugal, fundada na cidade do Porto, pelo Dr. Amílcar de Sousa, e situada na Avenida Rodrigues de Freitas.
Essa mesma associação criou, em 1909, a revista “O Vegetariano”, designada por mensário naturista ilustrado, e dirigida pelo Dr. Amílcar de Sousa, um médico especializado em dietética e nutrição. A revista durou pelo menos até 1915.
A publicação apresentava além de variados artigos, ilustrados com fotografias de crianças e adultos vegetarianos, receitas vegetarianas e anúncios relacionados com a filosofia da revista. Publicitava-se comércio de fruta, pão integral, vinho sem álcool e outros alimentos naturais, consultórios de médicos naturistas, termas e estâncias naturistas. Num dos anúncios, de uma edição de 1914, vê-se menção a uma “Maison Végétarienne”, apresentada como um restaurante dietético com regime vegetariano, situado em Lisboa na Avenida da Liberdade. Numa outra publicidade na mesma edição, apresenta-se o “Grande hotel Frutí-Vegetariano. Único estabelecimento do género em Portugal”, situado na cidade do Porto na Rua dos Caldeireiros, onde se faziam tratamentos naturistas e serviam refeições vegetarianas.
Internacionalmente, em Maio de 1911 a revista já era conhecida. A edição da revista Vegetarian Messenger (revista publicada no Reino Unido, desde 1849 até 1953) dessa mesma data, menciona a revista portuguesa O Vegetariano. O Vegetariano era ainda enviado para alguns assinantes no Brasil e em países africanos (Angola e Cabo Verde).
A Sociedade Vegetariana de Portugal foi ainda responsável pela publicação de dezenas de livros (algumas traduções de autores estrangeiros) dedicados a um modo de vida mais saudável. A tónica nesses livros, assim como nos artigos publicados na revista, está nas razões de saúde e nas sociais (fome no mundo, por exemplo). Pouco se fala ainda de defesa animal ou ecologia. Alguns desses livros publicados foram: “O Vegetarianismo e Fisiologia Alimentar”, de H. Collière; “Dieta Frugívora e Renovamento Físico”, de O. L. M Abramowshi; “O Naturismo”, de Amílcar de Sousa; “O Vegetarianismo e Moralidade das raças”, de Jaime de Magalhães Lima; “A Cura da tuberculose pelo vegetarianismo”, de Paul Carton; “Parto sem Dor”, de William Taylor; “O Homem é Frugívoro”, de Ardisson Ferreira.
Numa edição da revista de 1914, refere-se a existência de 3289 sócios na associação!
Este movimento em favor do vegetarianismo, que se registou na cidade do Porto nas primeiras duas décadas do século XX, teve como impulsionadores médicos de renome e personalidades da burguesia portuense, adeptos de uma alimentação vegetariana e da saúde natural.»
Fonte: «Alimentação Viva e Saudável»
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