3 de novembro de 2009

Café Ancora D'Ouro

«CAFÉ ANCORA D’OURO

Neste popularíssimo estabelecimento, ao Carmo, ia-se há dias travando sério conflito.
Eis o caso:
Estavam dois indivíduos jogando as damas, vai senão quando entra um cavalheiro, que não podemos saber quem era acompanhado de uma senhora. Acto contínuo brada um dos jogadores cheio de contentamento:
«Bravo! Sim, senhor. Um porco e uma dama! Está comido, parceiro.
Oh, palavra que disseste! O cavalheiro, que ainda bem não se tinha sentado, dá um pulo como se uma cobra o tivesse mordido no fraco e de um salto posta-se, de rewolver em punho, frente a frente com o seu antagonista, parecendo querer devoral-o só com o olhar. Há grande alvoroto entre os frequentadores. Vêem-se aqui e ali bancos por terra…. É tudo confusão. Cá fora algumas pessoas perguntam o preço da entrada, julgando ser alguma exposição de noivos Liliputianos.
Apparece a policia e procede a averiguações, apprehendendo a arma ao offendido.
Estava n’este ponto a questão, quando rompe do meio da turba uma estridente e prolongada gargalhada.
Todas as physionomias se volveram, procurando com o olhar o insolente que se atrevia a tanto.
O arrojado continuava a rir apontando para o taboleiro das damas que estava sobre um meza, onde momentos antes estavam jogando os promotores da desordem, e… oh céos!....Tudo pasmou.
No taboleiro que por felicidade até ahi se tinha conservado intacto, claramente se via que um dos parceiros tinha dado um poço e feito uma dama.
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O cavalheiro offendido exigiu da policia o rewolver apprehendido, pois que era a caixa d’um excellente cachimbo que possuía.»


In O Ecco do Povo, Anno 1, nº1, Domingo, 15 de Maio de 1887, Porto

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