Embora seja um tipo de espectáculo que se associa, por razões históricas, culturais e mesmo geográficas, ao sul de Portugal, as touradas também tiveram a sua época de ouro na cidade do Porto. É certo que nunca de forma tão entusiasta e popular que permitisse a sua continuidade por mais do que alguns poucos de anos. Mas ainda assim, ocasiões houve em que algumas praças, permanentes ou temporárias, tiveram ocasionalmente 6 ou mesmo 8 mil espectadores.
Horácio Marçal, no seu trabalho «Touradas, Toureiros e Tauródromos no Porto, em Gaia e em Matosinhos» (Separata do Boletim da Biblioteca Pública Municipal de Matosinhos, nº18, 1971, Matosinhos) faz o historial desses espectáculos tauromáquicos na cidade.
«A mais remota notícia acerca de touradas na cidade do Porto, pelo que sabemos, data de 24 de Junho do recuado ano de 1785, e refere-se a uma corrida de touros efectuada, com todo o esplendor, por ocasião das luzidas Festas Reais, em praça especialmente construída para o efeito no lugar da Torrinha, à estrada de Cedofeita (...)» assim relata o cronista, apaixonado aficionado, como se depreende do trabalho citado.
Uma outra corrida terá ocorrido oito depois, a 2 de Junho de 1793, num redondel construído no Campo de Santo Ovídio, actual Praça da República.
Não havendo mais notícias tauromáquicas durante umas dezenas de anos, apenas em 1869 há registo de a 19 de Agosto desse ano a Câmara Municipal do Porto ter autorizado a Raimundo dos Santos Natividade a aquisição de uns terrenos em Cadouços, na Foz (provavelmente no actual Largo do Capitão Pinheiro Torres), para implantação de uma praça de touros. Embora o recinto estivesse ainda em construção, a primeira tourada ocorreu logo a 24 de Agosto, com grande sucesso de público. Mas tal recinto, que ainda viu mais alguns espectáculos, não durou mais do que 3 anos.
O mesmo proprietário, a 7 de Fevereiro do ano seguinte (1870) requere autorização para a construção de uma praça de touros a nascente do Largo da Aguardente (actual Praça do Marques de Pombal) , onde se vieram a efectuar algumas corridas.
Um outro empresário, José Moreira Matos dá início, a 26 de Janeiro de 1870 à construção de uma recinto na Avenida da Boavista, à esquerda do Hospital Militar, a qual foi inaugurada a 25 de Março desse mesmo ano.
Passados uns anos, e apesar do insucesso dessas iniciativas, novo surto tauromáquico surge, com o empresário de ourivesaria Lopes Pereira e Joaquim Vieira Guimarães que fundam a Empresa Coelho Pereira & Magalhães para a construção de uma praça de touros designada «Coliseu Portuense» (na imagem) a qual veio a obter a designação de «Real» aquando as Comemorações Henriquinas, em 1894.
Situava-se esta praça entre o Cemitério de Agramonte e a Rotunda da Boavista, ao lado do Tabernáculo Baptista e foi inaugurada a 28 de Agosto de 1889. Durante alguns anos, ali se fizeram várias corridas, com algum sucesso, nomeadamente aquela que contou com a presença dos rei D. Carlos e os príncipes reais em 1894. Mas o entusiasmo não foi duradouro e o recinto veio a ser palco de espectáculos circenses e demonstrações de natação, tendo mesmo sido construído um enorme tanque na zona central do recinto. Com o avultar dos prejuízos, a praça foi demolida no segundo semestre de 1898.
A 4 de Maio de 1902 foi inaugurada uma praça de ouros no termino da Rua da Alegria, junto à rua do Lima, a qual se manteve em actividade por poucos anos. Já a 19 de Abril de 1920 inaugurou-se uma outra praça, na Areosa, a qual veio a ser destruída por um incêndio em 1926. Na mesma época (1920), parece que se estaria a construir uma praça, no Bessa, à Boavista, mas não existe registo se alguma vez foi concluída.
Finalmente, o último espectáculo de toureio realizado na cidade ocorreu em Julho de 1970, em pleno Pavilhão de Desporto (Palácio de Cristal) mas que foi um insucesso tremendo, fosse pela alegada fraca lide realizada, fosse sobretudo pela paupérrima adesão de público, a qual Horácio Marçal atribuiu apenas ao elevado custo dos bilhetes de ingresso....
O certo é que as praças de toiros, ao contrário do sucedido em outras localidades, nunca vingaram na cidade do Porto. Seja devido a má gestão empresarial, seja, (quiçá a razão principal), por manifesta ausência de adesão e gosto popular por tal tipo de espectáculo, os certamente poucos portuenses adeptos da tauromaquia teriam de se contentar em assistir a touradas quando se deslocavam à cidade capital ou nas localidades de veraneio do norte (Espinho, Póvoa de Varzim e Viana do Castelo) onde, mercê essencialmente dos fluxos turísticos, subsistiram até recentemente praças de toureio.
1 comentário:
Obrigado pelo artigo que me ajudou bastante num trabalho de investigação que estou a efectuar.
Por curiosidade, o texto indica que não há qualquer prova de que a praça de touros no Bessa chegou a ser construída. No entanto, li uma notícia no Comércio do Porto de 8 de Setembro de 1915 que anunciava uma corrida de touros que iria ter lugar precisamente nessa mesma praça. Nessa corrida em específico, tourearam Limefio e os cavaleiros Manuel Casineiro e Adolfo Machado.
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