16 de setembro de 2010

Os primeiros eléctricos em 1895

Na cidade do Porto, a 12 de Setembro de 1895 foi inaugurada o primeiro serviço de carros eléctricos para transporte público de passageiros. Tratou-se do primeiros serviço no género em toda a Península Ibérica, 14 anos após o surgimento do primeiro serviço similar na cidade de Berlim. Curiosamente, em Espanha a primeira linha a ser explorada, inaugurada no mesmo ano, foi na também industriosa cidade de Bilbau.
Em 1894 a Companhia de Carris de Ferro do Porto solicitara autorização para a introdução desse serviço, e veio a utilizar viaturas que eram adaptações das carruagens do sistema americano, puxadas a mula. O sistema de tracção animal durou até 1904 e o de tracção a máquinas a vapor (introduzido em 1877) perdurou até 1914. O sistema eléctrico era alimentado com electricidade fornecida por uma central termo-eléctrica junto ao cais do Ouro e à pedreira da Arrábida e que possuía bons mananciais de água. Era então aquela zona um importante foco industrial, situando-se a central entre a Fábrica do Gás e o Forno de Cal. Para a produção de energia usaram-se duas caldeiras a vapor 
A primeira linha fazia o percurso de 1,2 km entre a Cordoaria e Massarelos, e levava cerca de 5 minutos a percorrer em cada sentido.
A remise e oficinas da C.F.P no Ouro.


Adenda: contributo, que agradecemos, enviado pelo blog A Porta Nobre.
Extracto de notícia de «O Comércio do Porto» de 8 de Setembro de 1895 relativa ás experiências finais:

Experiências oficiais
Realizaram-se ontem de manhã, entre as 10h e o meio dia a experiência definitiva da nova linha eléctrica, estabelecida pela companhia carris de ferro do Porto entre o Bicalho e a Cordoaria – ponto términus da linha marginal. Dirigiram todos os trabalhos os Sr. José Ribeiro Vieira de Castro, ilustre gerente da companhia e Frank Ross, Eng. Electricista, expressamente contratado para a instalação deste serviço. 
(...) Nas casas já construídas no terreno adquirido pela companhia junto à enorme pedreira do Bicalho estão assentes duas caldeiras, uma máquina de força de 150 cavalos dando 80 voltas por minuto, um dínamo de igual força, e dando por minuto 650 voltas. Curiosíssima a mesa de distribuição, ou mais exacto e próprio, o quadro de distribuição ali instalado e por meio do qual se conhecem todos os incidentes que possam ocorrer na linha, se cortam as correntes da força motriz ou iluminação, se conhecem a pressão dos motores, etc, etc. 
(...) serão montadas mais quatro máquinas e outros tantos dínamos, partindo então dali a força motriz que tem de accionar os carros eléctricos nas grandes rampas das linhas urbanas. Quatro dessas máquinas funcionarão continuamente: a 5ª estará de prevenção para qualquer incidente que por ventura ocorra. 
No resto do terreno constroem-se as remise para os carros eléctricos; será feita uma oficina de serralharia para concertos de somena importância; instalações estas vastas, cheias de ar e luz, de construção singela, mas tão segura como elegante. 
(...) Fez-se a experiência com um carros dos dois que se tenciona por a circular regularmente de 15 em 15 minutos desde Massarelos à Cordoaria, a partir de Quarta-feira próxima. 
(...) O carro levava 20/25 pessoas. Subiu e desceu duas vezes a rampa da Restauração com velocidades variando entre os 6 Km e os 25 Km, diminuindo ou aumentando de andamento, isolando a corrente eléctrica, parando subitamente ou a pouco e pouco (segundo vontade do Eng. Ross que ia aos travões). Não se podia exigir nem mais segurança nem mais docilidade.
Exteriormente os veículos tem a configuração exacta dos carros da companhia – apenas são um pouco mais altos, na caixa das rodas. Esta diferença provem de que cada carro leva na sua parte inferior dois motores, de força de 25 cavalos cada, afora outros mecanismos de segurança. Interiormente, ainda, são iguais aos outros carros: tem lugares para vinte pessoas sentadas, e ilumina-os, poderosamente, 3 lâmpadas eléctricas. Em plano horizontal poderão arrastar 3 ou 4 carros comuns. Nas fortes rampas da cidade conta-se que arraste um. 

1 comentário:

Porta Nobre disse...

Boas Caro Gabriel Silva!

Não querendo meter a minha foice em seara alheia, permite-me "despejar" parte da notícia d' O Commércio do Porto de 8 de Setembro (Domingo) de 1895, relatando as experiências oficiais com o carro eléctrico. Refira-se que, nesta altura eram três os veículos já transformados, sendo que no dia da inauguração circularam os nsº 2 e 3.
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Experiências oficiais
Realizaram-se ontem de manhã, entre as 10h e o meio dia a experiência definitiva da nova linha eléctrica, estabelecida pela companhia carris de ferro do Porto entre o Bicalho e a Cordoaria – ponto términus da linha marginal. Dirigiram todos os trabalhos os Sr. José Ribeiro Vieira de Castro, ilustre gerente da companhia e Frank Ross, Eng. Electricista, expressamente contratado para a instalação deste serviço.
(...)
Nas casas já construídas no terreno adquirido pela companhia junto à enorme pedreira do Bicalho estão assentes duas caldeiras, uma máquina de força de 150 cavalos dando 80 voltas por minuto, um dínamo de igual força, e dando por minuto 650 voltas. Curiosíssima a mesa de distribuição, ou mais exacto e próprio, o quadro de distribuição ali instalado e por meio do qual se conhecem todos os incidentes que possam ocorrer na linha, se cortam as correntes da força motriz ou iluminação, se conhecem a pressão dos motores, etc, etc
(...) serão montadas mais quatro máquinas e outros tantos dínamos, partindo então dali a força motriz que tem de accionar os carros eléctricos nas grandes rampas das linhas urbanas. Quatro dessas máquinas funcionarão continuamente: a 5ª estará de prevenção para qualquer incidente que por ventura ocorra.
No resto do terreno constroem-se as remise para os carros eléctricos; será feita uma oficina de serralharia para concertos de somena importância; instalações estas vastas, cheias de ar e luz, de construção singela, mas tão segura como elegante.
(...)
Fez-se a experiência com um carros dos dois que se tenciona por a circular regularmente de 15 em 15 minutos desde Massarelos à Cordoaria, a partir de Quarta-feira próxima.
(...)
O carro levava 20/25 pessoas. Subiu e desceu duas vezes a rampa da Restauração com velocidades variando entre os 6 Km e os 25 Km, diminuindo ou aumentando de andamento, isolando a corrente eléctrica, parando subitamente ou a pouco e pouco (segundo vontade do Eng. Ross que ia aos travões). Não se podia exigir nem mais segurança nem mais docilidade.
Exteriormente os veículos tem a configuração exacta dos carros da companhia – apenas são um pouco mais altos, na caixa das rodas. Esta diferença provem de que cada carro leva na sua parte inferior dois motores, de força de 25 cavalos cada, afora outros mecanismos de segurança. Interiormente, ainda, são iguais aos outros carros: tem lugares para vinte pessoas sentadas, e ilumina-os, poderosamente, 3 lâmpadas eléctricas. Em plano horizontal poderão arrastar 3 ou 4 carros comuns. Nas fortes rampas da cidade conta-se que arraste um.